terça-feira, 26 de maio de 2009

A relação do PT com o PMDB em Vitória

No mês de janeiro o prefeito João Coser afastou-se do executivo para gozar um breve e justificável período de descanso. Assumiu no seu lugar o vice Tião Barbosa. Para surpresa de muitos, o comportamento do Sr. Tião não foi o de um vice em exercício e, sim, o de um prefeito de fato. Tomou iniciativas que foram muito além do que se espera de um vice em uma situação de interinidade no cargo titular, com direito a determinar ações e medidas para os secretários, as quais não constavam da agenda e do planejamento corriqueiro.

Isso abre um debate sobre a relação do PT com o PMDB no governo e, principalmente, sobre o futuro de projeto político do PT.

Na realidade, para quem acompanhou de perto, ou o mais próximo que foi possível, as articulações para composição da aliança com o PMDB de Vitória, esse “avanço do sinal” por parte do Sr. Tião não pode ser considerado uma surpresa. O processo político de como se deu a aliança, com o aceite de todas as pré-condições impostas pelos peemedebistas ao PT, sinalizava aos mais lúcidos - ou mais coerentes com o projeto do PT - que o controle político da Prefeitura de Vitória era uma questão de tempo, cujos primeiros passos já estão sendo dados no primeiro mês de governo.

Alguns petistas acreditam em uma suposta reação de João Coser, ou seja, uma espécie de pactuação com o vice, na linha do 'vice é vice' - reparem, nem falamos em enfrentamento... Infelizmente, isso não é o mais provável e explica-se pelo seguintes cenários:

O objetivo central de João Coser neste momento é ser eleito governador em 2010. João só sai candidato ao governo em 2010 sob a condição de ser O candidato de Paulo Hartung, e sem adversário a altura, leia-se: sem Ricardo Ferraço. Esse raciocínio parte da premissa de que o candidato a ser eleito em 2010 será aquele que obtiver o apoio exclusivo de Paulo Hartung.

Com esse objetivo central, a política de João Coser com relação ao PMDB (ou com relação a PH e seus representantes) será a de confronto zero ou pior: confronto negativo, na linha de jogar a toalha antes mesmo do menor sinal de enfrentamento.

Sobre o fato em si de o Sr. Tião exercer o cargo como um prefeito de fato cabe a pergunta: porque o espanto? Senão vejamos: João declarou antes mesmo das eleições a sua intenção de ser candidato ao governo em 2010, portanto, quando da composição da chapa majoritária com o PMDB na vice, TODOS sabiam da possibilidade de que o Sr. Tião fosse alçado ao cargo de prefeito titular a partir de abril de 2010. Então fica a pergunta: qual o problema de que ele vá exercitando seus poderes já a partir de agora? Se João for o candidato abençoado por Paulo Hartung, em 2010, o PMDB assume o executivo municipal de Vitória com um prefeito de fato e de direito.

Vem a pergunta seguinte: assumindo a prefeitura em abril de 2010 alguém acredita que serão mantidos os secretários e cargos petistas, com os respectivos projetos? A resposta já está sinalizada na breve interinidade do Sr. Tião e, para aqueles mais ingênuos, a resposta é NÃO. Assumindo o comando do executivo, a maioria esmagadora dos petistas, com os projetos do Partido - principalmente de cunho social - serão devidamente defenestrados.

Mas o comportamento inicial do Sr. Tião não é explicado apenas pelo exercício antecipado de uma possível investidura de prefeito, passa também pelas eleições de 2012.

Nunca é demais resgatar que o projeto do PMDB no Estado é antagônico ao PT e seus princípios.

Infelizmente criou-se um senso comum no interior do PT, o qual atribui à aliança com Paulo Hartung a suposta causa de suas vitórias eleitorais. Trata-se de um enorme engodo, qualquer análise séria dos resultados eleitorais de 2008 demonstram que a força do PT não advém de qualquer aliança com Paulo Hartung, que, similar ao Rei que andava nu, só se mantém às custas da imagem de rei que faz de si próprio, a qual não é questionada pelo status quo.

Esse imbróglio do PT com o PMDB só ajuda a um lado: o PMDB. Para eles o PT é o aliado submisso e oportuno para seu próprio crescimento, em detrimento do enfraquecimento do PT. Vejamos mais de perto:

Se João sair candidato ao governo em 2010, o PMDB ganha o executivo municipal mais importante do estado, em uma cidade onde é eleitoralmente fraco e sem uma liderança expressiva (basta verificar a votação nas três últimas eleições), isso às custas do deslocamento do PT; de quebra se colocará como uma grande força para as eleições municipais de 2012 com, tenham certeza, candidatura própria disposta a derrotar o PT em Vitória;

Se João não sair candidato em 2010, em 2012 teremos que conviver com um PMDB no papel de inimigo íntimo, disposto a tudo para ser o candidato vitorioso em detrimento de uma candidatura petista. E o principal qualificador dessa suposta candidatura do PMDB em 2012 será o importante papel desempenhado pelo vice, que pelo menos até 2010 terá uma larga e inconteste avenida para exercitar seu movimentos, haja visto o comportamento leniente de João em função de sua estratégia para 2010.

A tática do PMDB em Vitória está clara: crescer à sombra do PT para nos derrotar no futuro. Como dissemos, eles representam outro projeto e o seu avanço sobre nós é uma questão de tempo. Infelizmente, para isso contam com táticas equivocadas de amplos setores do PT, que empurram o partido para uma série de derrotas anunciadas - na verdade, seria preciso indagar até onde trata-se de um equívoco tático e até onde trata-se de abandono da estratégia petista, abandono esse tal motivado por projetos imediatistas e eleitoreiros - pessoais ou de grupos?


Emilio Font
Roberto Soares

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